quarta-feira, 2 de abril de 2014

Veja repercussão da decisão de elevar a Selic para 11% ao ano

Entidades apontam que alta prejudica crescimento da economia. 
Taxa básica de juros subiu pela nona vez seguida nesta quarta.

Laura NaimeDo G1, em São Paulo
1 comentário
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu aumentar pela nona vez seguida a taxa de juros básicos da economia, a Selic.
A Selic passou de 10,75% para 11% ao ano – uma alta de 0,25 ponto percentual, em linha com o consenso das apostas do mercado financeiro.
Com o novo aumento, os juros ficaram acima do patamar vigente no início do governo Dilma Rousseff, em 2011 – quando estavam em 10,75% ao ano. Assim, todo corte dos juros feito pelo BC no governo da presidente (a taxa chegou à mínima histórica de 7,25% ao ano, entre outubro de 2012 e abril do ano passado) não só foi "devolvido", como superado. A taxa Selic vem subindo desde abril de 2013.
Veja as opiniões e análises sobre a alta:
Thais Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg e Associados
Tiraram do comunicado o ‘dando continuidade ao ciclo de alta’. Pode ser uma sinalização de que tem intenção de parar (de elevar os juros) numa próxima reunião (do Copom). Provavelmente vamos ter mais informações na ata, que sai na semana que vem, mas pode ser sinal de que estão realmente próximos de encerrar o ciclo de alta. A gente esperava que chegasse até 11,25%. Ainda é possível.
Carlos Daniel Coradi, EFC Engenheiros Financeiros & Consultores
Eu esperava até que ela (a alta nos juros) fosse mais alta, meio ponto. O problema é que eu fiz alguns estudos uns dois anos atrás correlacionando a Selic a uma eventual posterior baixa da inflação. Para minha surpresa, deu zero. Isso quer dizer que a inércia da reação do aumento da taxa Selic é muito pequena. O governo tem aumentado (a Selic), mas inflação não cede. Nós temos ainda uma indexação muito forte, o aluguel, o pedágio, o pagamento das contas públicas, uma parcela muito grande das coisas que a gente paga. Então a Selic não faz efeito sobre essa parcela. Estamos no mato meio sem cachorro. O BC sempre tenta contar com o efeito psicológico, mas esse efeito já caiu em desuso. Eu gostaria de uma alta maior que 0,25, gostaria de 0,5, até 1, para impactar de uma vez essa inflação.
Confederação Nacional da Indústria
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de aumentar, novamente, a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 11% ao ano, se fundamenta na resistência da inflação em convergir para o centro da meta, de 4,5%. Essa medida, entretanto, impõe pesados custos ao setor produtivo no processo de contenção dos preços.
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan)
A opção por uma política fiscal expansionista impõe um grande desafio à política monetária. Prova disso é que, mesmo após alta de 3,75 pontos percentuais da taxa Selic, as expectativas de inflação encontram-se em patamar mais elevado do que quando foi iniciado o atual ciclo de aperto monetário, há um ano. O Sistema Firjan entende que não há como conciliar juros altos e crescimento elevado, por isso insiste na importância de um superávit primário maior para este ano e os próximos, de forma a reduzir a pressão sobre os preços e ancorar as expectativas de inflação.
Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
A economia segue em marcha lenta, e nova alta de juros só servirá para retardar ainda mais a retomada, com o agravante de que os juros estão subindo e as expectativas de inflação não caem (...). O Brasil só trabalha no curto prazo, não há gestão, estratégia. O país precisa deixar de lado o improviso. Precisamos de um plano focado no crescimento econômico, controle dos gastos de custeio, investimento em infraestrutura, educação de qualidade e reforma tributária. O Brasil precisa de um plano de longo prazo e menos juros.
Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT
Essa nova e descabida elevação da Selic somente favorece o apetite insaciável do mercado financeiro e vai encarecer a produção e o consumo, dificultando o crescimento econômico do país e freando a política de geração de empregos, melhoria dos salários dos trabalhadores e a distribuição de renda. (...) O novo aumento da Selic representa, na realidade, outra capitulação do Copom diante do terrorismo do mercado financeiro, o único que ganha rios de dinheiro com a subida dos juros, enquanto todos os demais setores da sociedade perdem.
Miguel Torres, presidente da Força Sindical
Mais uma vez o governo optou por aumentar a taxa Selic na tentativa de combater a inflação. Ele repete o script que o Brasil assistiu muitas vezes, e descumpre o que defendeu antes, ou seja, sua promessa desenvolvimentista de que teria como consequência um Pibão. Rifa a economia, com um resultado pífio da produção industrial (que ficou em 0,4% no mês de fevereiro, comparando com janeiro), e já produz desdobramentos negativos no emprego e nas negociações coletivas.
Roque Pellizzaro Junior, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas
O aumento de juros é um mecanismo que deve ser acionado somente em último caso, porque esfria a economia, restringe o crédito e piora a situação das famílias. O governo precisa arrochar as contas públicas e fazer o dever de casa, principalmente em se tratando de um ano eleitoral. Primeiramente, o controle inflacionário precisa ser realizado por meio de um amplo ajuste fiscal na máquina pública, com cortes de gastos de custeio e com desoneração dos setores produtivos.
José do Egito Frota Lopes Filho, presidente da Abad
Por meses a fio, o Banco Central vem elevando a taxa básica de juros, que já havia alcançado o mesmo nível do início da gestão da presidente Dilma. Agora, esse nível foi ultrapassado e os impasses que justificam tecnicamente novos aumentos em futuro próximo continuam presentes. (...). Assim, tanto na ponta da produção como na ponta do consumo, o atual arranjo é perverso para o país e compromete o futuro da nossa economia. É preciso sair dessa armadilha, e a necessidade de reformas é cada vez mais premente.

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