sábado, 31 de março de 2012

Três dúvidas do português que não vão embora


A seção Consultório de hoje é diferente: trata de questões que, embora já tenham sido abordadas na coluna, em resposta a consultas de leitores, continuam entre as campeãs de dúvidas. Além de naturais, as novas consultas são um boa oportunidade de recapitularmos alguns momentos marcantes do Sobre Palavras.
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‘Ter de’ ou ‘ter que’
“Esse era um problema que eu tinha: sempre que via um ‘ter que’, emendava para ‘ter de’. Mas somente porque me soava melhor. Até que vi em escritores portugueses, vernáculos, como Aquilino Ribeiro, que dominava muito bem a língua, a expressão ‘ter que’. Numa investigação mais acurada que fiz, encontrei algures que esta forma ‘ter que’ seria mais antiga que ‘ter de’, usada, creio, somente a partir do séc. XVIII. Mas não sou afirmativo. Por um lado, soa-me melhor ‘ter de’, por outro, por amor à língua, deveria usar ‘ter que’.” Henrique Ribeiro
Henrique, “ter de” surgiu primeiro, mas “ter que” está além da consagração. Optando por um ou outro, você não tem como errar. Naturalmente, também não faz mal algum ler mais sobre o assunto, abordado na coluna há pouco mais de um ano: é só clicar aqui.
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‘Evitem-se distorções’ ou ‘evite-se distorções’?
“Dia desses, me deparei com a seguinte dúvida: o correto seria ‘a fim de que se evite distorções’ ou ‘a fim de que se evitem distorções’? Na verdade, pensei que o ‘se’ fosse índice de indeterminação do sujeito. Mas lembrei daquela velha regra gramatical do ‘vendem-se casas, pois casas são vendidas’, onde o sujeito é ‘casas’. Então, desconfio de que o certo seria ‘a fim de que se evitem distorções’. Em todo caso, a dúvida persiste. O senhor poderia me ajudar?” Alex Ferreira Ribeiro
Alex, você desconfiou certo, pelo menos do ponto de vista da gramática tradicional: a voz passiva sintética exige o verbo no plural (“evitem-se”). No entanto, convém ler com atenção este artigode abril do ano passado, no qual explico que a interpretação do “se” como índice de indeterminação do sujeito vem ganhando cada vez mais apoio, mesmo entre gramáticos conservadores, o que a esta altura já nos permite chamar de obscurantista quem declara simplesmente errado o verbo no singular. Mesmo assim, em situações formais, vá de plural: evita dores de cabeça. (De uma forma ou de outra, repare que a frase citada por você ficaria mais elegante com a seguinte construção: “A fim de evitar distorções”).
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‘Norte-americano’ está certo?
“Não sei se estou correto ao indignar-me com o uso da expressão ‘norte-americano’ em referência ao que pertence aos Estados Unidos da América (governo, cidadão…). O correto não seria ‘americano do meio norte’, já que na América do Norte existem dois países (não sei se se inclui o México), e não somente os EUA? Confesso um pouco de picardia e revanchismo nesse questionamento que faço. Mas, primeiro, vamos clarear as definiçõess para o bom uso do nosso português.” Sérgio Souza dos Reis
Sem possibilidade de uma resposta definitiva em termos de erro e acerto, a dúvida levantada pelo xará é um vespeiro que cutuquei aqui na coluna em julho de 2010. Também não gosto de norte-americano. Entre as alternativas, americano e estadunidense, fico com a primeira. Clique aquipara saber por quê.
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